26 de janeiro de 2005

Um olhar sobre a cidade

Chegada a Lisboa pouso a mala e olho em redor.
São 8.30 da manhã, a cidade fervilha. Pessoas andam de um lado para o outro, a correr, de pastas na mão... Os olhares são tristes e um pouco mal dispostos. De vez em quando lá cruzo um olhar mais afável mas que depressa se recolhe.
Deambulo pelo Terreiro do Paço, que está de pernas para o ar por causa das obras do metro. Sento-me num banco e observo. Como eu gosto de observar esta Lisboa a acordar! É diferente. Diferente do Porto de onde vim. Mas não se pode nem deve comparar as duas cidades. O Porto é homem. Lisboa, mulher. Vivem numa relação de amor/ódio só porque ainda não se aperceberam que um sem o outro não vivem. Quanto mais não seja para se criticarem e se erguerem de alguma forma uma perante a outra. Uma perfeita estupidez. A presunção de serem Cidades grandes.
Pois eu digo-vos que gosto das duas cidades por razões bem distintas.
Quanto não valem o Tejo e o Douro? Qto não vale uma francesinha e depois de um belo tinto um pastel de Belém com canela e açucar? E porque não um passeio desde a Ribeira até ao Castelo do Queijo e à noite um jantar em pleno Bairro Alto, numa casa de fados qualquer? Para quê esta palhaçada ignorante de comparar duas cidades tão importantes para este pequeno país? Afinal para quê ??? Dizem que o Porto se afirma mais sobre Lisboa...e de facto já constatei que lá em cima falam muito mais dos Lisboetas do que o oposto. Porque será? Será o Porto e a sua gente a tentar afirmar a sua viril natureza? Será esta afirmação apenas mais uma manifestação machista do poder e força de Homem sobre Mulher? Porque esta ainda existe, mesmo depois as mulheres terem provado o que valem. Sim meus caros... é de natureza do Homem essa estúpida afirmação...
A verdade, para mim, que amanheço com ambas as cidades no coração, é que uma sem outra não sobreviveriam. Mas porque não falar na bela Guimarães, Braga, Coimbra, Guarda, Covilhã, Vila-Real, Viseu, Bragança, Portalegre, Évora, Beja, Faro, Lagos, etc..etc...etc...?
Porquê?
Olho o Tejo invadida pelos Cacilheiros que trazem gente de trabalho. Olho os carros que atravessam esta cidade que desperta agora para um novo dia, mais um dia...
Está frio hoje, é verdade. Lá dizia a metereologia...uma corrente fria vinda da América e que nem mesmo o Anti-Ciclone dos Açores a pode afastar do Continente...
Agasalhem-se...mas não só de roupa. Agasalhem-se de calor humano. Unam-se, não se dividam.
Olhem para o exemplo da unidade surgida pelo Tsunami.
E porquê? Porque estamos borrados de medo que nos aconteça também, porque somos frágeis, pequenos, medíocres. Porque somos humanos e como tal pequenos perante a natureza...
É dando hoje um olhar sobre a cidade ou sobre as cidades, repletas de gente que teimam em desprestigiar-se que penso: e se de repente algo inesperado como um Tsunami acontecer e ambas as cidades forem engolidas por um mar que nos é muito superior... o que restará para comparar?
Tentem olhar, ver, observar. Falem menos. Ouçam mais. Vejam. Sintam.


Tudo acaba aqui.


T.


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