Sentada.
Aquela mulher despe a farta roupa que traz no corpo. Tira primeiro os sapatos, depis as luvas, depois o cinto de ligas e as meias de liga... Tira a blusa branca que tem uns folharecos engraçados... Por fim: o Corpete. É de veludo vermelho e preto. Despe-o com a sensualidade da mulher francesa, com a feminilidade de cortesã do século XVI... Estamos em França ( claro está ) e há nas ruas o cheiro a pão quente, a chocolate, a café...Uma mescla de sensações quentes naquela noite fria de Inverno. Deita-se sobre a cama de lençois vermelhos. Descansa o corpo. Adormece. Esta mulher é puta. Ou melhor, prostituta...uma cortesã...termo bem mais pomposo...Dorme com homens vindos de vários países...todos passam por ela, numa viagem intensa de prazer e sensações...
É uma figura misteriosa...que desperta a curiosidade de muitos...
Porém, como qualquer cortesã, sofre do mal de amor...
Ama um Homem que nunca a teve...que nunca a quis...Um homem que só viu passar uma vez. Que olhou como se ela não existisse...Gelou quando viu este homem...
Acorda de madrugada com os gemidos da sua companheira de quarto que está com um cliente na casa de banho...
Está farta desta vida de carne e de leviandade... Sente-se vazia, apodrecida, sem amor. Sente-se feia e é a mulher mais bonita da velha Paris...
Todos os dias acorda com esta sensação de dor interior pelo que faz. Mas quando o faz, fá-lo com tal distinção que é respeitada por muitos homens...e temida por muitas mulheres.
Levanta-se com os barulhos da companheira a pairar no ar e vai até à janeta.... Lá fora velhos bêbedos cantam os " Chevaliers de la Table Ronde " em notas mal pronunciadas... Fecha a cortina e volta para a cama... A outra geme cada vez mais alto... Deve estar a gozar um bom bocado, o homem com quem está. Sim porque para ela são só mais 200 francos...Que inferno sonoro este...
E assim se processa todo o mau estar desta mulher que se sente vazia. Que ama em segredo. Que se vende por desdém aos homens, à sociedade. Por ser mais fácil, ou não...
Uma prostituta que quer a todo o custo deixar o seu corpete...
T.
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