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Sentada na varanda do 5º andar da rua X em Matosinhos vejo os telhados da cidade. Lá ao fundo o mar.
Não é que seja uma cidade particularmente bonita. Mas aquela proximidade com o oceano confere-lhe um magnetismo algo sui generis. Passo o tempo a olhar para esta vista. Há algo que me prende na paisagem. E a casa onde estou tem uma energia que se funde com a mesma. O Sol põe-se a nordeste da janela mas consigo espreitar essa fuga. As gaivotas habitam os telhados, bem como os gatos vadios que saltitam de muro em telha. Ouvem-se murmúrios. De vez em quando sente-se um "carago" dito com aquela típica graciosidade nortenha. Gosto desta gente.
Anoitece. Olho o mesmo horizonte. Numa mescla quase libidinosa com a noite esconde-se o mar. Vejo apenas as luzes e os telhados. Paira um silêncio que me transmite uma paz enorme. E eu, sentada com o copo de Monte Velho na mão, ouço a banda sonora do One Million Dollar Hotel e sinto aquele espaço com todas as células do meu corpo. Sem fazer mais nada senão saborear cada trago de vinho, as luzes da cidade e o som melancólico e alternativo. Sinto-me quase nua. É como se cada sorvo, cada luz, cada nota músical entrassem por mim a dentro e anestesiassem tudo. Pertenço àquele momento.
Fumo um cigarro de olhos fechados. Deixo que a minha imaginação me leve dali para fora. Num êxtase que não consigo explicar.
Ali, na Matosinhos de telhados e de mar...
T.
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