16 de dezembro de 2010

Bastidores

  Hoje soube da morte de uma pessoa que tive o prazer de conhecer um pouco melhor nestes últimos anos. Uma pessoa que sempre andou muito sozinha. Cuja família não queria sequer saber...
Desconheço os contornos do abandono, a verdadeira razão. Sem desprimor pelas mais variáveis razões que levaram esta família a abandonar esta pessoa acho que não se trata assim de uma relação de sangue. Morreu sozinho, um enfarte fulminante. Dizem que não se sente nada. Sinto alívio quando penso nesta parte. Mas não sei como é, nunca tive um.
Morreu na cozinha a ver televisão. Tinha a pernita em cima de uma cadeira. Já estava morto há 2 dias. Esteve 2 dias sozinho, morto, teso. Com a televisão acesa, ao pé da lareira. Uma lareira que se apagou.
Ninguém deve morrer assim. E ele não merecia morrer assim.

Tenho uma K7 com a voz deste Sr. O Sr. Jaulino que ainda este verão esteve connosco.
Vinha muitas vezes ter com os meus pais, sentia-se em família.
77 anos com tanta solidão...

No funeral da minha avó estava com um ar muito denso e solene. Foi um funeral forte, como todos e em particular os dos nossos entes queridos. Mas aquele ar de quem estaria a pensar " até mesmo na morte esta família é unida, uma família como eu sempre quis".

Quis Deus que ele partisse assim, sozinho, no seu canto, no conforto do lar, a apreciar o calor da lareira. Nos bastidores de toda uma vida.

Como disse o António Feio: não deixem nada por dizer ou fazer.....

E eu reforço: a vida é curta. E morre-se.

T.

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