9 de dezembro de 2006

É Dezembro

É Dezembro novamente.
Um mês que encerra um ano. Ano que pode ter sido bom ou mau.
É Dezembro...
O mês em que o frio nos gela o nariz, em que chove, em que se avizinha mais um Natal.
É Dezembro...
Mais um Dezembro na vida de tantas pessoas.
O Dezembro da neve, das montras enfeitadas a rigor, das árvores de Natal, das prendas, das renas, do Barbas gordo, bonacheirão e simpático cheio de presença nos shoppings, nas ruas das cidades. Na imaginação das crianças e até dos adultos.
Dezembro ainda cheira a castanhas, ainda se sentem folhas caídas num Outono triste.


Mas o Dezembro é também o mês em que se sente o frio.
Quem vive na rua carece ainda mais de calor.
É o mês em que o cartão não abriga, nem o esgoto, nem o banco de um jardim. O jardim do costume.
É o mês em que todas as carências parecem vir à tona.
É um mês frágil, Dezembro.

Vejo esta imagem sempre que Dezembro chega: o sem-abrigo.
Sempre.
Desde pequena que o vejo.
E acreditem, já os vi de perto.
Já experimentei ir na ronda dos sem abrigo de uma dessas instituições de caridade, que felizmente existem e dão um minuto de calor humano a estas pessoas que escondem estórias. Estórias impressionantes.

Dezembro é um mês que me leva até eles. Pois são os que mais sofrem, ainda que o reprimam por detrás de um sorriso sarcástico ou de um olhar desconfiado. São eles quem sente a falta do que temos e às vezes nem sabemos aproveitar.

Desculpem o excesso de racionalidade no mês do Natal. Mas sinto-me sempre invadida por uma certa tristeza, por alguma resignação. Eu diria até, inaceitação.
É-me difícil digerir a desigualdade que existe.
A riqueza versus pobreza.
O calor versus frio.
A Família versus o vazio.
O Amor versus a solidão.


E há quem, ainda que tendo família... não a tenha...
Sendo uma espécie de sem abrigo na sua própria existência... Ainda que tenha conforto, comida e até alguma qualidade de vida. E eu já senti o vazio destes olhares, de afirmaçõe tão frias quanto o mês de Dezembro. E eu já senti o camuflado sentimento de desilusão face ao contexto forçado pela vida. Pelas pessoas da própria vida.


Já vai longe o texto.
Já quase não apetece ler mais.

Mil desculpas, não me apetece escrever coisas banais.

Apetece-me sempre colocar desafios aos vossos raciocínios.

Dezembro fechado ou aberto.

Um mês para reflectir.


T.

1 comentário:

Anónimo disse...

Dezembro fechado em si. Aberto ao gelo.