Espreito a janela do segundo andar do prédio da frente, naquele bairro suburbano que fui visitar. Vejo umas luses amarelas, cheira-me a incenso. Sinto velas a serem queimadas. Sinto os desnudos a devorarem-se. O som, que é de Goa, faz-me ver terra vermelha, flores secas, seda, algodão, olhares fortes tapados com os cetins imaculados. Vejo o camponês pobre que no rio passeia o seu corpo magro e sombrio. Vejo a tristeza das crianças sentadas à beira desse rio, descalças, magras, vazias...
Volto à janela de onde sai esse som. Lá dentro há um colchão vermelho no chão. Vazio, abandonado, roto, gasto... A luz e as velas apagam-se. O incenso acaba. O cheiro a sexo desaparece. Não se ouvem mais sons. Amanhece. E eu ali, em frente àquela janela, vejo o tempo passar...
T.
Sem comentários:
Enviar um comentário